FOTOGRAFIA

Não pareço mais comigo
Pedaços de mim se perderam
Enquanto o tempo, absorto, passava
E eu, sem estar em mim, nem via...
Não me pareço mais com aquilo
Que eu mais parecia
Hoje me mostro muito
Nas linhas onde eu me escondia.
E quieta observo a decadência.
Dos músculos, das massas, das mãos vazias.
Hoje eu sofro muita a influência
Das verdades que eu defendia
Não envelheci na face o quanto envelheci
Na alma, órfã de alegria, e não me resta
muita coisa, a não ser alguns versos
E um riso antigo que insiste nesta fotografia.

Tonho França